Dia da psicóloga
No mês passado tivemos o dia da psicóloga e, ao invés de estar em clima de homenagem e felicitações, fiquei bastante reflexiva sobre esse ofício e o quanto ainda estou no caminho para me identificar com essa profissão. Para quem se formou em meio a uma pandemia, a falta de rituais de passagem transforma o começo da carreira num campo maior de incertezas, como se o grau de irrealidade tivesse aumentado. Como dizia Alejandra Pizarnick: “cantei a tristeza do que nasce” e é assim que sinto a transmutação de universitária para profissional. Felizmente, tive a companhia dessas quatro leituras que me fortaleceram nesses tortuosos meses de decisão em relação ao início da minha prática clínica. Todos eles me ensinaram coisas valiosas e que antes, numa leitura ainda enquanto apenas estudante, não me tocaram tanto como agora.
Com o Calligaris, por exemplo, aprendi que nunca se sabe o que vai levar alguém a buscar terapia e que nosso compromisso principal é com aquele que nos procura e não com o método ou com teóricos. Já com Marie Louise von Franz, o que me marcou foi a proximidade do trabalho do terapeuta com o trabalho do xamã e que, inicialmente, ele passa por uma série de provações para conhecer e ter empatia com o sofrimento humano. Já com o conto O Alienista de Machado de Assis, pensei o quanto eu poderia ser considerada “louca” e ser levada para a Casa Verde como todos os outros personagens que eram levados pelo mais simples problema.
Por fim, com Jung, aprendi sobre a importância da personalidade do terapeuta na reação química que é a relação terapêutica. Portanto, não é possível fugir de si mesmo, é preciso se autoconhecer para percorrer esse caminho e adotar esse ofício. Aqui, peço licença, pois já dei muitas referências nesse post, mas citando Caetano Veloso que se inspira em Beatles: “It’s a long, long, long way.”
Parabéns aos que estão aqui e encararam este trabalho.
Texto escrito por Jessiane Kelly (jessianekelly_) psicóloga clínica, formada pela Universidade Estadual do Ceará (UECE) e revisado por Khadja Oliveira (khadjaoliveira_), estudante de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN).
