analiticamente
3 min readOct 6, 2020

Hilda Hilst #LeiturasAfins

Hilda era uma mulher que queria ser lida. Escritora de prosa, poesia e teatro, passou boa parte da vida sem reconhecimento por sua vasta obra. Após a publicação de 28 livros, resolveu publicar literatura pornográfica para chamar a atenção do público e, consequentemente, se sustentar como escritora. Muito criticada na época por fazer isso, finalmente recebeu “a fama” por subverter o gênero literário. Mas não irei me deter sobre esses livros nesse post, mas sim, sobre os livros “Eu e não outra” e “Da poesia”.

Foi muito bom conhecer a história da Hilda, suas excentricidades e peculiaridades, como ter mais de 90 cachorros em sua casa solar, realizar pesquisas por anos em busca de outros seres através de ondas de rádio, abrigar seus amigos em sua casa ou escrever A obscena senhora D no topo de uma árvore por estar fugindo de um parceiro seu. Mas também de conhecer seu rigor com a leitura e os estudos; e seu processo criativo em relação a escrita. Ressalto as peculiaridades, mas esse livro das jornalistas Laura Folgueira e Luisa Destri traz um apanhado bem linear do que foi a vida de Hilst.

Essa costura de sua vida com sua obra esclarece várias coisas. Mesmo que a biografia seja apenas um fragmento de explicação para entender o conteúdo da obra, é possível ver, por exemplo, como seus envolvimentos amorosos a influenciaram (fiquei surpresa de saber que o título Memória, Júbilo e Noviciado da paixão são, na verdade, iniciais de um homem por quem Hilda nutria muitos sentimentos!). É como Lygia Fagundes Telles – sua grande amiga e também escritora – já dizia, que quando Hilda estava apaixonada, vinha livro novo por aí.

Além desses aspectos, é possível entender como sua educação religiosa fez com que ela se envolvesse em temáticas sobre o divino, a morte, a materialidade, o sagrado e o profano, trazendo reflexões e escritos dos mais profundos que já vi sobre o tema. O lugar que essas temáticas ocupam em seus escritos vão ser centrais. Escritos estes, que no conjunto de sua obra, vão de um estilo bem formal até alcançar mais experimentação e amplitude. É tanto que o começo da coletânea percebe-se um grande rigor na escrita, só que mais pro final é como se fosse abrindo, ficando mais acessível para os leitores a identificação e a fruição com suas palavras.

Muitos conhecidos meus falam sobre a dificuldade de entendê-la por seus escritos serem muito abstratos e eu concordo, não é uma obra muito fácil. Talvez o grito de Hilst para ser lida enfrentava essa grande barreira que a fizeram investir num estilo que alcançasse mais gente. Deixo, então, algumas sugestões dentro da sugestão, que dizem respeito aos livros de poesia que eu mais gostei e achei mais “fáceis” de ler:

-Memória, Júbilo, Noviciado da Paixão (1974)

-Da morte. Odes mínimas (1980)

-Poemas malditos, gozosos e devotos (1984)

-Cantares de perda e predileção (1983)

-Via Espessa (1989)

-Do desejo (1992)

-Cantares do sem nome e de partidas (1995)

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